sábado, 29 de novembro de 2014

música e quietude

A música é absolutamente o alimento da minha quietude. Traça-me rumos com as vibrações magnéticas dos seus sons. Faz luz na minha sombra e mostra-me as afinidades escondidas entre mim e o resto da natureza. Acorda-me, dá-me abraços, faz-me recordar e esquecer, mantém os músculos do meu corpo com a tensão necessária, dá-me arrepios de prazer. 
Entra-me pelos ouvidos e pela pele. Faz-me vibrar os ossos e dar cor aos pensamentos. Faz-me sonhar acordado. Tanto dá sentido aos meus momentos mais individualistas, como me une em comunhão com outros da minha espécie.
Na minha vida completa a música completa-me, mas é quando estou completamente imóvel que sinto que ela me nutre e me carrega as baterias mais intimas do ser.
Devemos o nome que lhe chamamos, aos gregos, que a consideravam a arte das musas ( μουσική τέχνη - musiké téchne).
No seu ritmos e nos seus tempos consigo estender-me  pelos infinitos universos e entender-me como um Todo. Nada como a música me faz ver que o físico e o emocional são parte da mesma coisa. Como a quietude faz parte do movimento, os silêncios fazem parte da música. 
No  equilíbrio construído entre quietude e movimento consumo sons e silêncios, durações e harmonias.
Quando o meu corpo é por mim exposto como estátua viva estou mais atento do que nunca ao seu volume, à sua duração, ao seu timbre e intensidade. Umas vezes aquieto-me com melodias,  outras com ritmos.  

Ao fazer ressonar o meu corpo, a música mantém-me alerta para o momento que veste cada aqui e agora.