segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Crise, Sociedade Anónima



 

Quando Proudhon pensou que toda a propriedade é um roubo, muito possivelmente já tinha reparado na Lei de Lavoisier, que nos diz que na Terra nada se cria, nada se ganha, tudo se transforma. Nestes tempos, ditos de crise, aos quais eu prefiro apelidar tempos de gatunagem especializada e de controlo sistematizado, rouba-se aos milhões sem vergonha na cara e muito menos no coração. Quanto maior o roubo, menor o castigo.

Qual crise qual quê? Oportunismos vários, sem ligar ao mal que se faz aos semelhantes ,isso sim. Enquanto houver uns quantos a acumular hiper fortunas, sejam eles gestores, políticos, banqueiros, futebolistas, estrelas de Hollywood, patos bravos, xeques do petróleo, traficantes de drogas, de orgãos ou mesmo de pessoas, negociantes ou gangsters, serão sempre as massas a pagar as consequências. Para uns terem demais, outros terão que ter menos. Tão simples como isto.

O ano passado foi histórico – e não estou a falar sobre a pandemia. O mercado registrou ofertas públicas inesperadas, aumento de criptomoedas e valorização das ações. O número de bilionários na 35a lista da Forbes dos mais ricos do mundo, publicada anualmente, explodiu para um número sem precedentes de 2.755 pessoas, 660 a mais do que em 2020. Ao todo, as fortunas consolidadas chegam a 13,1 triliões de dólares, valor bem acima dos 8 triliões da lista de 2020. A pandemia foi portanto ferramenta útil para o crescimento da riqueza dos mais ricos no valor de 5 triliões de dólares, é obra. Ao todo, 86% de todos os bilionários estão mais ricos do que estavam há um ano.

Existem 20 pessoas que têm tanta riqueza como metade da população mundial. Este facto não pode ser considerado natural em nenhuma esfera social, seja ela ética, moral ou outra qualquer. Em Portugal 25 pessoas detêm 10% da riqueza total do país. Entretanto distribui-se medo pelas populações. Já o povo diz há muito tempo, o mal de uns é o bem de outros! Sempre houve a doença da grandeza e do poder. Já houve donos de quase toda a terra conhecida e o mal continua. Enquanto a consciência dos explorados não atingir o ponto de ruptura e a completa ausência de medo, os maníacos das grandes posses continuarão o seu caminho até sabe-se lá onde. Existem até suspeitas que em reuniões secretas dos grandes senhores do mundo se bebe sangue de crianças em ritual, continuações de rituais que vêm de outros tempos.

Para os donos do jogo não há crise, eles sabem bem o que se passa, são eles que a criam. A crise é um estado de alternância onde não há volta a dar ao mesmo ponto de partida. Quando as verdadeiras pessoas abrirem os olhos poderão ser bem aproveitadas para o caminho da sociedade do bem. A palavra crise em latim tem a mesma raíz de vento e de oportunidade positiva. No Capitalismo é apenas outro dos nomes que têm os negócios.

A Crise S.A. alimenta-se de vários mecanismos, desde os tecnocratas treinados em universidades especializadas, até à construção de paraísos fiscais, passando pela corrupção ou pela simples cunha.