terça-feira, 4 de outubro de 2011

mutação (à laia de testamento)


Sinto-me num ponto de mutação acelerada da minha existência. Quando medito sinto apertos no peito . Quase a chegar aos 25 anos a criar e a apresentar estátuas vivas, a minha vida materialmente vale menos do que uma estátua banal. Contudo, na individualidade que consegui manter, transporto o valor máximo de qualquer existência, a liberdade e a decisão própria. Quando parei pela primeira vez nas Ramblas de Barcelona, foi fruto de querer ficar sozinho durante a viagem da normalidade. Hoje, em muitas cidades do mundo, existem já habitualmente estátuas vivas, são elas os monumentos em minha honra. O monumento em minha memória, posso ainda ser eu a deixá-lo pronto. O meu corpo embalsamado, com as novas técnicas de preservação de tecidos mortos, será uma excelente e oportuna recordação daquele que teima em fazer entender a parte do mundo das pessoas, que ‘quando os lábios estão imóveis as palavras estão em ordem.’ Quem me olhar nesse pláusivel futuro, poderá apreciar a estátua única do homem-estátua. Será a estátua-morta a fazer perdorar nas coisas, a memória deste eu que comunica com os outros maravilhosamente bem, enquanto assumindo representações várias de estátua viva.

Vamos a ver como estará o entendimento dos homens das leis e do poder, na altura do acontecimento.



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